segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Pediste-me um poema,

Como se palavra alguma pudesse descrever o que temos

Pediste-me um abraço

Mas os meus braços, cansados e frouxos já não contêm o vigor para te segurar

Pediste-me um beijo

Como se o calor abrasivo dos meus lábios pudesse apagar o fel das palavras que te dirigi

Pediste-me um sorriso

Perdi-os há muito num sonho onde nem eu sei bem se vivi ou se me deixei matar.

Perguntas-te se te amo, se ainda te amo...

Escrevo-te o poema.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

(I)racional

Pouso em ti esta lágrima nova.

Como repouso na almofada cada desafio, cada remorso, cada dúvida que me engula o dom do discurso e me amarre a garganta a um silêncio abrupto, que se afoga na noite.

Dedico-te esta reflexão profunda, este receio desmedido e esta incerteza angustiante.

Com cada traço do teu rosto desenho em mim uma solução, um futuro e talvez até um sonho que possamos vir a amar e nutrir,

No entanto, no mesmo prado idílico onde me perco em certezas, vejo florir raras vezes o reflexo da minha própria fraqueza.

Componho-me de sorrisos porque já me doem os músculos de tanto chorar,

Encho a alma de força para não me lembrar da vulnerabilidade que está por baixo desta crosta de gente que sou.

Quase me engano e quase consigo partir à margem deste absurdo de letras que empilho na minha cabeça, tento formar um discurso para me convencer

Que tudo o que aqui emerge é real e não imaginado.

Que tudo o que aqui semeio não tem gorgulho

E que nada além da minha voz vai prevalecer neste eco que ressoa já dentro de mim.

Numa busca alucinada por ser travado,

Num torpor de adrenalina, um dejá vu que teimo em passar em películas de um filme amarelecido e já gasto aos meus olhos.

Ao longe ouço-os já, rumores ritmados de um fim que não é o meu,

Pássaros da morte que me anunciam nada que eu não previsse já num tempo distante.

Esta chuva só me molha porque eu deixo,

Este calor só me queima porque eu quero.

Esta dor só lateja enquanto eu a sentir,

Esta vida só corre porque eu a contenho,

Eu só existo quando tu me vês.