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sábado, 25 de setembro de 2010

Descobri ao acaso todos os cadernos quase cheios de outra Era.
Outra pessoa rabiscou nas suas páginas os devaneios, as ilusões, o auto-flagelo de ego ou tão somente as emoções inomináveis que experienciava avidamente.
Era outra pessoa.
Não me reconheço já naqueles traços trémulos que a caneta teimosamente desenhou no papel.
Não conheço aquela dor disfarçada de ingenuidade que incendeia aquelas palavras...
Os textos, meticulosamente arquitectados, tombam perante a minha leitura com a certeza de terem sido alimentados pela fome de exposição que hoje me agonia e transmuta os sentidos.

Minto.
Conheço tão bem cada pedaço daquela dor que ainda hoje lhe sinto o sabor a cobre na língua,
Ainda me assombram aqueles pensamentos, de tal forma que ainda hoje tenho dificuldade em adormecer...
Com medo que eles ousem tocar-me novamente.

Construí, nos textos e na mente, uma torre tão alta que me proteja...
Hoje não a reconheço.
Não me quero reconhecer.
E lamento por essa, que já não sou eu, que nunca teve quem a defendesse.
Talvez tenha sido positivo, hoje já se defende sozinha, claramente.