domingo, 29 de março de 2009

Meto as chaves À porta e dispo tudo o que trouxe lá de fora.
Recolho-me num canto deste imenso silencio e absorve-me toda a pressão que exerço sobre mim mesma.
Descalço-me dos passos que dei, lavo de mim o vento que me fustigou
E purgo lentamente toda a réstea de alma que ainda teimosamente pulsava cá dentro
Acaba-se o tempo antes de conseguir focar em mim o milésimo de segundo em que respirei pela última vez.
Assim caminho pela casa, sustendo a respiração eternamente,
A querer chorar-me de penas e mágoas e sentimentalismos ridículos e sem conseguir verter uma lágrima que seja.
Secou.
É uma concha vazia que se arrasta pelos dias a espera do fim.
É o viver pela obrigação de responsabilidade a que me abandono sem sentir, sem me sentir.
E ainda assim me fustigo com pensamento e calma exacerbada que transpiro a cada segundo.
Tremo, não do frio que me preenche, mas do receio de não me sentir novamente.
E quando termina o auto-flagelo emocional, a ténue lamina que reluz na minha carne nunca pareceu tão quente.
Nunca esse metal me pareceu tão reconfortante, nunca a dor me aliviou tanto como agora.
Forço-me a levantar e comigo levanta-se também mais um dia.
Sempre, o mesmo, o peso, este peso tão grande que disfarço num sorriso largo.
Sim, porque eu sou forte e sorrio muito.
Sim, porque eu sou forte e os problemas são apendices com os quais faço jogo de cintura.
Sim, porque eu sou forte e prefiro ouvir os vossos problemas a falar dos meus.
Sim, porque eu sou forte, e as pessoas fortes não teem problemas.
Sim, eu sou forte.

SSDD (SAME SHIT DIFFERENT DAY)

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