quarta-feira, 1 de abril de 2009

In the flesh

Escrevo-te com deleite, como se a minha mão te desenhasse em carne no papel.
Contorno-te as feições com palavras de ternura que nunca te irei proferir nem dedicar.
E quando te circundar de exclamações, quando resvalares nesta folha em desejos, hipérboles, insinuações,
Saberei precisamente onde tocar, terei mil fracções de segundo para retroceder nas minhas decisões.
Tantas hipóteses de te preencher a carne com a luxúria do vinho, como as que te sonho ao manchar de tinta, rudemente, este pedaço de papel.
E antes que o toque acalorado dos teus lábios se prenda ao enlace dos meus dedos, tropegos, e arfantes de desejo...
Antes que caia a noite, suave veneno em áurea taça que partilhamos com as mesmas horas que nos embargam os sentidos,
Antes que nos descuremos em sentimentos cáusticos, carícias mordazes e promessas vazias num amanhã...
Sim, antes que esse amanhã nos engula sem ar, sem luta, somente nos deguste incansável e irascível contra o frio do chão, a dureza da pedra, em contraste com o calor da tua carne desnuda e frágil.




Antes de tudo isso, quero perder-me nesse desejo mórbido, nessa languidez quase-perfeita e pós coital
Quero ser-me como há muito não sabia ser, se é que algum dia me soube ...













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