segunda-feira, 6 de abril de 2009

conversas

Pensas que tens tudo alinhavado,
podes até ter a certeza de tudo o que dizes estar certo,
tudo o que fazes ser pelo melhor
tudo o que pensas, é despersonalizado,
racionalmente debitado e informatizado a cada expiração
a cada fracção de consciencia que tens de ti proprio.
Até que te apercebes,
que a fé é só isso mesmo, uma esperança desmedida em algo que pode nunca vir a concretizar-se
A crença, o impulso, o "destino", não passam de adjectivos com que tediosamente rotulamos aquilo que nos acontece nas horas amontoadas a que chamam de vida
E quando dás por ti, a dizer tudo o que ensaiaste na tua cabeça
Por anos a fio, tão bem ensaiado, tão minuciosamente descrito
Tão estupidamente real...
Quando dás por ti, tens de facto as palavras a ecoarem no cérebro,
Tens tudo certo, abres a boca e realmente é desta ...
Mas o vazio a que te habituaste engole-te inteiro,
E tens realmente pena de magoar,
Tens pena de te ser sincero demais, tens receio de que não compreendam a tua língua,
De ser mal-interpretado, de ser interpretado bem demais,... e principalmente...
Essas palavras que te assolam, que se assomam na tua cabeça, há tantos anos
Que será de ti sem elas depois?
Como colmatar o vácuo deixado por elas,...
Porque essa dor, e essa cruz já te está calcificada nos ossos, já é parte da tua pessoa, já te ensinou, já te fez errar e já te marcou para a vida.
E sem ela? Sem essa muleta invisível, conseguirás caminhar?
Mais erecto, mais senhor de ti, mais coeso e cheio de auto-estima?
Talvez não.

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